quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Ilhéus - BA

Essa viagem tem uma longa história. Um começo que deveria ter sido de pura felicidade, um meio de muita tristeza, alguns desencontros e um desfecho alegre e perfeito. Respira fundo e vem comigo!

Ficha técnica:
Paisagem: praia
Hospedagem: casa de amigos
Transporte: avião
Duração: cinco noites
Grau de novidade: primeira viagem de avião só com a mamãe; não conhecíamos a casa

Evento especial: primeira viagem sem o papai
Pequeno viajante: Joaquim, 19 meses

Pra começo de conversa, Ilhéus foi onde começou a aventura de lua de mel do papai e da mamãe! Aventura essa que incluiu visitas a amigos muito especiais. Um deles, o Matheus, já saiu da vida boa à beira mar faz tempo, mas a Ana, irmã da vida acadêmica e fora dela, acabou virando baiAna.

Sempre quisemos voltar pra descobrir Ilhéus com mais tempo, visitar a Ana, mas nunca dava certo, as passagens eram caras e a viagem foi sendo adiada. Até que tivemos a notícia de que uma certa baianinha estava a caminho e aí não teve desculpa. Assim que Alice nasceu compramos passagens, com uma boa antecedência, é claro, pois não se chega de mala, cuia, marido e filho na casa de recém nascido, por mais que seja filho da sua irmã.

Só que, de pura felicidade o cenário foi se transformando e aqui começa a parte triste... quando Alice estava com 1 mês começaram as suspeitas de uma doença muito grave, que veio a se confirmar. Atrofia Muscular Espinhal. Entre exames e começo de tratamento a família saiu de Ilhéus pra buscar melhores médicos e estrutura. Bem na época que a gente iria... Adiamos então a viagem, deixando mais uma folga para que eles voltassem. Marcamos as novas passagens pra fevereiro, coincidindo com nosso aniversário de casamento ;)

Só que cinco dias antes da gente embarcar acordo com a notícia de que Alice tinha ido embora. Por mais que a doença tivesse um prognóstico muito difícil, ninguém esperava que fosse ser assim. Foi de repente, foi rápido.

A parte boa - acredito que sempre existe... - é que Alice teve uma vida linda. Ela não sofreu em hospitais. Ela viveu o que tinha que viver, e se foi.

Mas os pais ficaram. E aqui a gente tenta imaginar o tamanho da dor. O tamanho do buraco que ficou. Eu acho que não dá, não dá pra imaginar. É um tamanho que não cabe na compreensão de quem nunca passou por isso.

O que aconteceu é que Ana e André tiveram que sair de cena. Seria insuportável ficar ali, era preciso ao menos respirar para conseguir lidar com a dor. Com isso, adiamos novamente nossa viagem, marcando dessa vez pra agosto, numa "data qualquer" que tivesse uma tarifa viável. Mais tarde a Ana lembrou que essa era a melhor época pra avistar as baleias Jubarte e fiquei especialmente animada com a "data qualquer" que tínhamos escolhido.

(por uma felicidade do destino conseguimos encontrar com a Ana e o André nesse retiro que eles fizeram, e depois eles vieram nos visitar, então pelo menos nos vimos nesse meio tempo)

Agora vem a parte do desencontro: fiquei na cabeça que a viagem era pro dia 20 de agosto e nunca mais conferi. Na semana anterior fui checar os horários dos voos e quase desmaiei: as passagens eram pro dia SEIS de agosto!!! Ou seja, a viagem inicial foi adiada duas vezes e nunca aconteceu. Nem fui atrás de algum reembolso, se é que existiria. Não era pra ser.

Fiquei ARRASADA. Perdemos a viagem, perdemos dinheiro, perdemos as baleias. A Ana ainda tentou nos consolar dizendo que só choveu nos dias que estaríamos lá... até consolou um pouco, rs...

Mas não sosseguei. Pra completar, estava órfã de irmã... minha outra irmã Ana, essa de pai e mãe, tinha ido passar um ano na Holanda e eu entrando em parafuso me sentindo a pessoa mais solitária do mundo (muito louco isso!).

Conversando com o marido, resolvemos que eu iria sozinha com o Joaquim pra Ilhéus! E aqui começa outra história digna de nota:

Achei umas passagens muito baratas em voos diretos pela TAM, mas na hora de fechar a compra o site travou e quando loguei de novo já eram outros preços, inviáveis. Era tarde de noite e fui dormir desconsolada... Mas nada como um dia após o outro - e um marido alto astral! O PC me animou a continuar procurando e fui dar uma olhada nas minhas milhas, que nunca tinha usado. Pois eu tinha exatamente a quantidade de milhas que precisava pra ir pra Ilhéus, e naquela mesma semana!

Comprei as benditas passagens e só quando fui avisar a Ana da data me dei conta de que chegaria na Bahia no Dia de Todos os Santos. E de que passaria o Dia de Finados com eles. Nada é por acaso...

Então agora vamos à viagem propriamente dita! Nossos voos tiveram conexões em Salvador e tanto na ida quanto na volta foi muito tranquilo. Levei o carrinho do Joaquim, o que é uma mão na roda pra coisas básicas como ir ao banheiro, por exemplo. Levei também uns lanchinhos, o que foi ótimo, já que arrumar comida de qualidade em aeroportos parece tarefa impossível (não vou nem falar dos preços... se fosse coisa boa pelo menos, mas pagar caro por comida ruim me recuso!). A boa surpresa foi ver que no menu da Gol tem itens da Mãe Terra. Numa emergência dá pra apelar ;)

Uma coisa que facilitou muito é que os aeroportos estavam bem vazios, então o Joaquim podia andar e correr pelo saguão enquanto esperávamos o embarque. Mas o que ele gostava mais era ficar vendo "vião"!




Em Ilhéus pegamos bastante chuva, o que comprometeu um pouco a praia, mas sinceramente eu não estava muito preocupada com isso, porque o que mais queria era ficar tagarelando com minha amiga :) e com meu novo amigo também, é claro! André se diz super tímido, mas virou o melhor amigo do Joaquim instantaneamente, e tivemos bons papos também. Como é legal conversar com pessoas diferentes! (ele é astrofísico, professor da UESC como a Ana).


E por falar em astrofísica, fomos conhecer a UESC numa segunda à noite, num evento de observação astronômica. Vimos a lua, linda como sempre, e Marte, que foi uma certa decepção, pois não tinha nenhuma grandiosidade, mas os astrônomos falaram que Marte é sempre uma decepção, rs... já o Joaquim se divertiu com uma lua inflável e o difícil foi fazer ele desgrudar dela pra ir embora. E ainda tivemos sessão de cinema VIP (a primeira do Joaquim), com duas animações muito simpáticas, uma da Pixar e uma da UESC. Joaquim ficou o tempo todo segurando um Netuno de isopor e no final da primeira animação, onde aparecia uma lua crescente linda, na tela toda, ele falou: "Luuuua!"

Comemos acarajé, catado de aratu, empada de camarão (Cabana da Empada, lembre desse nome! Entre Ilhéus e Serra Grande). E chocolate, muito chocolate, pros maiores de 18 anos :) A Ana providenciou uma verdadeira orgia do chocolate Mendoá. Incrível! O ao leite virou meu favorito, desbancando aqueles suíços metidos. E já combinamos que a iniciação do Joaquim ao chocolate será em Ilhéus, com um tour completo pela produção da iguaria, que começa na cabruca - onde vivem os cacaueiros - e termina abrindo pacotinhos charmosos.






Encontramos com a Solange, que também ganhou a simpatia do Joaquim, e a Andrea, que já foi companheira de viagem em outra era (a famosa era a.J. - antes do Joaquim, rs...).

Conversamos sobre livros (onipresentes na casa e na vida do casal) e aproveitei pra abastecer minha biblioteca virtual.

Macanudo!

E tem como conversar sobre livros sem conversar sobre a vida? Ou melhor: conversamos sobre a vida com referências bibliográficas, rs... nessas horas sempre lembro do meu professor Marcos Sorrentino, que insistia para que lêssemos e usássemos as leituras nas discussões, pra não virar "conversa de botequim". À primeira vista pode parecer pesado, sério demais, embasar um papo de amigas em literatura, mas na verdade trata-se de uma expansão da consciência. Uma conversa em dupla que logo se transforma num grupo animado, formado por personagens atemporais. Esses companheiros não nos deixam nunca e serei eternamente grata à minha hermAna por ter me apresentado muitos deles e, melhor ainda, por cultivar em mim o gosto - e o acesso! - à leitura. Gracias!

Finalmente, no penúltimo dia, fomos ao cemitério. Parecia filme, parecia livro. Um cemitério rural, pequenininho. Flores murchas lembrando o Dia de Finados. Ao lado do túmulo de Alice choramos. Como não chorar? Joaquim preocupou e eu só disse que ele não precisava entender isso agora. Sossegou. Brincou com as folhas do chão.

Passamos no mercado e mais tarde preparei um quibe de abóbora pra nossa marmitinha da volta, que teve também melão, mingau e smoothie Queensberry que a Ana comprou de manhã cedo na padaria.


O último dia foi de acordar sem pressa - como todos os outros - tomar café da manhã sem pressa - claro, estamos na Bahia! - arrumar as malas sem pressa e ir pro aeroporto sem pressa. Check in tranquilo, melão no saguão de embarque e assim fomos voltando, adiantando o relógio, lembrando dos afazeres da "vida real".


Nos dias pós viagem aquela velha sensação nostálgica, as lembranças à flor da pele. E um desejo imenso de trocar qualquer viagem de avião, qualquer mensagem instantânea, qualquer banda larga, pela simples presença próxima e constante das pessoas amadas. Eita, que vida é essa que encurta distâncias, mas espalha as pessoas?!


2 comentários:

  1. Ahh, Carol, que falta vocês fazem! Bem que podiam morar ali na esquina. Pena que a vida não permita eqüidistância, porque estando aqui vocês iriam fazer tanta falta "aí" ... Não tem jeito. A gente fala que o mundo é um ovo - e em certos aspectos realmente é! - mas tem horas que é um vasto mundo (sem porteira).
    Agora estamos esperando vocês pra iniciação chocólatra do Joaquim (o Mororó, "chefe" da fazenda/fábrica da Mendoá, já foi avisado dos planos e ficou animado. Vamos começar pela cabruca até chegar na embalagem:) rs).
    E da próxima vc já sabe que pode carregar mais de um volume de bagagem, aí dá pra pensar em aumentar a matula pros que ficaram no sudeste ...
    Saudades de vocês, ainda maior agora. Só faltou meu cunhado predileto :)

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    1. Oba! Já estou sonhando com a iniciação do Joaquim, rs...

      Essa do segundo volume de bagagem (e terceiro, e quarto...) vai dar prejuízo da próxima vez =D

      E, como dizia minha vó, o que não tem remédio, remediado está. Nos resta lidar com os desafios da nossa época e não deixar com que a distância nos enfraqueça... ando pensando muito sobre isso, qualquer hora sai um escrito ;)

      Seu cunhado também anda com saudade, de você, do André e do Badaró, hehe!

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